Correspondendo a 42% do PIB de Cruzeiro do Sul, os prejuízos causados pelo ataque sem precedentes da praga do mandarová nos roçados de mandioca deverão ser sentidos na economia do município como um todo.
O avanço da praga que ataca as folhas da mandioca se dá com uma voracidade que ainda não havia sido registrada anteriormente na região. Se na semana anterior os prejuízos eram calculados em torno de 50% pela Secretaria Municipal de Agricultura, SEMAP, nesta semana eles já são estimados em torno de 80 a 90%.
A rapidez com que a lagarta tem devorado as folhagens da mandioca nesta safra foi testemunhada pelos agricultores da região do rio Campinas - que se prepararam para fazer a borrifação preconizada pela Embrapa com o Baculovirus, um defensivo orgânico. Em questão de uma noite as lagartas destruíram os roçados a ponto de não ter mais o que proteger.
“Até ontem isso aqui tava bonito, esse roçado. Hoje tá desse jeito. Já tinha havido ataques de mandarová antes, mas pouco, nunca desse jeito. Eu planto para sobreviver, só vivo da agricultura, se não trabalhar, não ganho”, disse Sebastião Oliveira dos Santos.
“Nós vivemos desse produto, derramamos muito suor para cuidar. Quando chega a colheita, é para sobreviver. A situação é: de onde vou tirar o dinheiro para pagar mercadoria, luz, passagem para a cidade, dinheiro para transporte?”, pergunta o agricultor João Miranda, o Caracol.
O ataque às folhas é tão devastador que sequer as manivas (talos) poderão ser aproveitadas para o replantio. A mandiocultura de Cruzeiro do Sul terá de ser reinciada praticamente do zero.
“Nessa época do ano, há maior incidência de insetos, as mariposas vêm devido a mudanças climáticas, esse tempo é ideal para a proliferação. Elas põem os ovos e aguardam aí, logo viram lagartas. A praga começa a comer as folhas da mandioca, assim ela não faz a fotossíntese e, dessa forma, a mandioca que estava recém-plantada perde 100%, nãos e aproveitada nada. Aquelas que são atacadas na fase adulta perdem de 30% a 50% no primeiro ataque, podendo chegar a 10% se houver um segundo ou terceiro, como tem ocorrido. Perde-se até as manivas, não tem como utilizar nem as hastes para replantio”, explica o Engenheiro agrônomo Clodomir Cavalcante da Silva, técnico da SEMAP.
Prefeitura busca soluções para os agricultores e para a economia local
Diante da agressividade do ataque, e do impacto dos prejuízos, a Prefeitura de Cruzeiro do Sul declarou emergência e deverá manter um plano de contingência permanente para que a agricultura de Cruzeiro do Sul possa estar preparada para responder aos ataques que antes ocorriam a cada quatro anos, mas que tendem a se tornar anuais.
Outra linha de ação trata de buscar apoio financeiro emergencial para os agricultores junto ao governo federal e posteriormente, recursos para a retomada da mandiocultura.
Para isso a prefeitura está promovendo visitas constantes às áreas de produção de mandioca e capacitando produtores para o preenchimento de relatórios que serão encaminhados ao governo federal.
“Nós temos visitado as comunidades, levando a estrutura da secretaria para ver de perto. Estamos chegando nos roçados, e da noite para o dia já tem atacado os roçados. Temos que ver como ajudar esse impacto que já sofreu o agricultor, e trazer orientação técnica para trabalhar na prevenção. 80% a 90% já foi consumido pela lagarta, praticamente toda Cruzeiro do Sul. O plano da prefeitura era justamente fortalecer a cadeia produtiva da mandioca e por isso esse ataque torna-se uma situação muito difícil para a mandiocultura de Cruzeiro do Sul”, disse o secretário municipal de agricultura Eutimar Sombra.
O prefeito Zequinha Lima visitou pessoalmente os roçados da região do rio Campinas.
“Hoje saímos de casa às 5 horas da manhã para visitar os agricultores que abastecem a nossa cidade, temos de ser grato a eles. Estamos vendo aqui uma realidade que não gostaríamos de constatar: o mandarová está acabando com os roçados, da noite para o dia. Ontem estava tudo verde; durante a noite, ficou só o talo. Mandioca de dois anos que, em seis meses, poderia ser colhida, mas não vai dar mais nada. Toda economia destes agricultores vem da farinha, beiju, goma, tapioca. Não vai ter esse sustento mais”.
“Estive em Brasília mobilizando a bancada federal. Estamos precisando de ajuda, estamos requisitando auxílio emergencial do Ministério da Agricultura para recomeçar, para aos poucos erguerem a autoestima e a economia deles. Sem farinha, não há recurso. Quando o comércio deixa de vender, é uma cadeia que todo mundo se prejudica. É triste ver a situação da zona rural”.
“Estamos estruturando o engajamento dos agricultores na produção de um relatório que está sendo preenchido para ter dados bem reais do tamanho do prejuízo no município, e com isso, podemos requisitar ajuda emergencial’, disse o prefeito.
“Fico triste porque a maioria das pessoas sobrevive da agricultura e veja o que está acontecendo. Fico desesperado. Agora é buscar ajuda de quem pode ajudar a gente. O prefeito está de parabéns por estar aqui com a gente. Agora é fazer esse relatório para conseguir essa ajuda em Brasília”, disse o agricultor João Nogueira, o peruano, que ficou com a responsabilidade de produzir o relatório na localidade.
Por fim, a prefeitura também pretende investir na diversificação da produção rural e deverá em breve anunciar a aquisição de novos equipamentos agrícolas para isso. Uma das apostas é na cafeicultura.
“Temos equipamento para entregar para que possam plantar outras culturas e não depender somente da mandioca”, concluiu.